Minha carência por likes
Primeiro ato: Vivendo no piloto automático
Eu vinha sentindo muito incômodo. Não sabia ao certo o que era.
Só sabia que tinha algo errado comigo. Algo que precisava ser olhado.
Tenho tido muita dificuldade de terminar minhas atividades. Dificuldade de me concentrar nas coisas que faço. Pouca produtividade e muita procrastinação.
Comecei a perceber a quantidade de vezes que eu abria Whatsapp, Facebook, Instagram, Messenger, e-mail e Linkedin ao longo do dia.
Eu até tentei contar, mas perdi desisti depois que percebi quem em menos de 30 minutos eu abri umas 5 vezes.
Então tomei consciência de um problema. Eu estava viciado nas redes sociais. E agora?
Segundo ato: As desculpas para mim mesmo
Passei a investigar meu próprio comportamento pra entender porque é que eu acessava tanto esses sites. Por que é que eu abria tanto esses aplicativos?
A primeira coisa que pensei foi que era apenas curiosidade. Eu sei que sou muito curioso, então natural eu querer checar mensagens o tempo todo. Saber como as pessoas estão interagindo com as minhas publicações, monitorar meu desempenho nas redes.
Esse pensamento me levou até o autoengano de achar que eu estava fazendo isso porque era meu trabalho. Que então não tinha mal algum porque afinal de contas, eu estava trabalhando. As redes sociais são minha forma de interagir com as pessoas que me acompanham.
Só que dentro de mim, eu sabia que isso não era verdade.
Eu sabia que esse vício ia muito além de estar trabalhando, ou de mera curiosidade.
Eu passei a observar os momentos em que mais sentia necessidade de abrir as redes sociais: logo pela manhã, quando acordava e nos momentos em que ficava sozinho. Elevador, sala de espera, quando o carro parava.
Por que é que eu não conseguia resistir e sacava o celular imediatamente?
Não era apenas curiosidade. Era mais profundo que isso.
Era carência.
Eu me sentia carente nesses momentos. Eu precisava de gente. Precisava receber algo dos outros. E aí recorria ao meu Facebook.
E agora? Como resolvo isso?
Terceiro Ato: Sendo verdadeiro comigo mesmo.
Então eu entendi que estava usando o celular e as redes sociais para suprir minha carência. Para preencher um buraco. Mas o que era esse buraco? De onde vinha essa carência?
A grande verdade é que receber likes é legal. Eu tenho o privilégio de ter uma rede grande e receber centenas e às vezes milhares de likes por textos que eu posto.
Só que esses likes são apenas uma ilusão. Não preenchem o meu vazio.
Imagine que você está com fome. Você está com muita fome. Faz muito tempo que você não faz uma refeição decente. E aí vem alguém e te dá um biscoito de polvilho.
Você vai se deliciar com esse biscoito de polvilho. Ele vai enganar seu estômago e você vai querer mais. Você vai querer comer um atrás do outro.
E é assim que eu vejo a dinâmica das redes sociais à partir dos likes.
Eles me trazem alegria, eu fico feliz. Mas eles não me preenchem. Porque não tem os nutrientes necessários para eu me sentir satisfeito. Então, eu sempre vou precisar de mais e mais.
E quais são os nutrientes que me nutrem? O que vai acabar com a minha fome?
Quarto Ato: A Mudança Real
O buraco que eu sentia no peito, essa carência por likes era na verdade uma busca por amor.
Eu só queria me sentir amado. Sentir que as pessoas gostam de mim e que elas validam aquilo que eu faço.
E quais são as formas de conseguir amor? Eu fiz um vídeo desenhando um esquema que entendi do fluxo do amor. De que todos nós queremos preencher nossa “barrinha do amor” e fazemos isso buscando nas relações. As principais fontes de amor são nossos pais, mães, companheiros ou companheiras (relacionamento afetivo) e os filhos. Mas não são as únicas. Recebemos amor dos nossos amigos, familiares, colegas de trabalho e às vezes até de pessoas que não conhecemos.
Mas existem duas fontes maiores de amor que podemos acessar de maneira abundante: a natureza e a espiritualidade.
Entre no mar, deite na grama, faça uma trilha na mata e entre debaixo de uma cachoeira e vai se sentir energizado, preenchido. Você vai sentir amor.
Faça uma meditação, receba reiki, deeksha, tome um passe, pratique yoga , faça uma oração e se conecte com aquilo em que você acredita e você vai se sentir energizado, preenchido. Você vai sentir amor.
O amor é uma energia abundante e infinita que passa por você quando você se abre para receber. Não é algo que você precisa estocar. Eu não preciso economizar em abraços com medo de ficar sem.
Quinto Ato: Novos comportamentos
Quando eu tomo consciência dessa dinâmica, eu paro de ir atrás dos outros como forma de me preencher. Eu recebo de tudo que está em volta de mim e me abasteço constantemente.
Eu certamente quero receber esse amor dos outros. Ainda quero que gostem de mim, que me elogiem e me dêem likes. Mas com consciência de que não é disso que eu preciso.
De que tudo que eu preciso é encontrar uma forma de gostar de mim mesmo e de quem eu sou sem depender dos outros.
O mundo hoje é muito hostil. Vivemos uma escassez de amor em nossa sociedade. Estamos todos mais preocupados em receber do que em doar. Em ganhar que em transmitir. Em acumular e estocar ao invés de compartilhar.
Então, se você depender dos outros, você vai sofrer. Porque os outros também querem de você.
Eu não quero viver a base de uma dieta de biscoito de polvilho. Quero me nutrir de verdade. Quero sentir amor de verdade. Quero me amar de verdade. E quero emanar isso a todos.
E é o que eu faço hoje com esse texto. Emano um pouco daquilo que recebi ao me conectar comigo mesmo.
Estou acordado há 3 horas e ainda não abri nenhuma rede social.